27/09/2020

Vem aí o velho e famigeradoimposto do cheque

Por duas vezes em menos de um mês o presidente Jair Bolsonaro detonou as ideias de sua equipe econômica para atendê-lo na criação de um substituto mais generoso para o Bolsa Família, batizado de Renda Brasil. “Não posso tirar dos pobres para dar para os paupérrimos”, esbravejou, indignado. Na mesma semana em que reprisou a frase de efeito, avalizou a reencarnação da CPMF, ressuscitada como Digitax. Optou por tirar também dos paupérrimos para perenizar o dinheiro na veia que inflou sua popularidade.

Muda-se o nome, com marquetagem anglicista (fala-se digitéx ou digitáx?), mantém-se o conteúdo: não passa do velho e famigerado imposto do cheque.

O ministro Paulo Guedes sabe desde sempre – e Bolsonaro também – que não existe espaço no orçamento para criar despesas. Mal, mal, será possível fechar os próximos anos com déficits administráveis. Os planos A, B e C para aumentar o número de beneficiados e o valor do Bolsa Família e com isso reduzir o impacto do fim do auxílio emergencial sempre foram o imposto sobre transações financeiras, agora com a pegada pseudo-moderninha de operações digitais.

Como as resistências a esse tipo de imposto são gigantescas, o que se fez foi enfiar chifrudíssimos bodes na sala, permitir que o presidente os afugentasse e, por fim, apresentar uma proposta que possa parecer mais amena.

Em meados de agosto, um estudo da equipe econômica dava conta de que o Renda Brasil poderia ser financiado com o fim do abono salarial, do salário-família, do seguro-defeso e da farmácia popular. Era previsível a grita contrária por se tratar de programas sociais de peso. Bolsonaro escolheu um evento em Minas, com as ensaiadas aglomerações, para defender os paupérrimos e suspender qualquer debate sobre o tema.

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